Saturday, May 13, 2006

 

A Colher do Rei

Com uma colher,
arrancava os olhos dos crocodilos
e batia no traseiro dos macacos.

Enquanto rangia a colher do Rei,
andavam todos tremidos,
como se fossem recem nascidos.


Enquanto rangia a colher do Rei,
uns agachavam-se para dizer Eu sei,
mas o outro fugiu para não dizer Balariu,

É preciso matar o ruivo vendedor de aguardente,
todos os amigos da maçã e da areia,
e é necessário dar com os punhos fechados
nas pequenas judias que tremem cheias de borbulhas,
para que o Rei Enola cante com a sua multidão,
para que os crocodilos durmam em longas filas
sob o amianto da lua,

e para que ninguém duvide da infinita beleza dos espanadores,
raladores, os cobres e caçarolas das cozinhas.

Ai, Burocracia disfarçada! Ai, O Partido, ameaçado por gente de trajes sem cabeça!

Chega-me teu rumor,chega-me teu rumor atravessando troncos e ascensores,
através de lágrimas cinzentas,onde flutuam teus automóveis cobertos de dentes,
através dos cavalos mortos e dos crimes diminutos,

Através de teu grande Rei desesperado,
cujas barbas chegam ao mar.

Com uma colher,
arrancava os olhos dos crocodilos
e batia no traseiro dos macacos.

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